QUANDO O HOMEM FINGIR O ORGASMO
As mulheres queimaram a calcinha, o sutiã e as pantufas. Os
homens incineraram as ceroulas e os pijamas listrados. Não há mais
nenhuma revolução sexual. Depois do anticoncepcional e do Viagra, a
impressão é que os tabus foram superados e não desponta recorde a ser
quebrado no horizonte.
Você se engana. A mais complicada mudança de costumes ainda
não aconteceu: o fingimento masculino do orgasmo. Aguardo uma pílula
que amplie o nosso repertório.
Seria nossa libertação das garras e caprichos das lobas e lolitas.
Se a mulher saiu da cozinha, o homem não abandonou o quarto. Está
algemado na cama de seu corpo. Da forma atual, seremos sempre
dependentes. Não há como se safar. Manteremos a pose de sexo frágil da
relação, submissos e súditos. É uma injustiça ultrajante, nos privaram do
benefício de falsear, testar gemidos, recorrer a playback, enganar a
plateia. É tudo real, honesto e verdadeiro. Uma sinceridade imperdoável.
Entregamos na hora se amamos ou não, se estamos felizes ou não;
dispensável o interrogatório.
Nenhuma namorada busca conferir o orgasmo do seu parceiro.
Não merecemos nem a pergunta. Não desfrutamos do mistério, da
hesitação, do enamoramento entre o claro e o escuro. Não conhecemos a
dúvida, filhos da certeza por toda a eternidade. O grito e o tremor nos
entregam. A ausência de chance de mentir no sexo faz com que a gente
tente descontar fora dali, contando vantagens na profissão.
O homem pode enganar pulando da cena com a camisinha
intacta. Mas não gera a mesma graça. No sexo tântrico, corre o boato de
que é possível gozar sem ejacular, porém nenhuma esposa é santa para
acreditar nesta história; dirá apenas que broxamos e pedirá na lata para
confessar o nome da outra.
O progresso carnal virá com o fingimento do macho. É o que falta
para a civilização confirmar a igualdade. É o último degrau. Distanciado de
truques e evasivas, terá que ser encarando a vítima. Como no teatro da
crueldade: simular olho no olho, boca na boca, ouvido a ouvido.
Reservaremos um dia na semana para aula de canto, exercitaremos o
pompoarismo das cordas vocais. Ela ficará indecisa se agradou, louca
Borralheiropara questionar e nos bater com o travesseiro, prestes a nos sacudir pelo
veredicto. E não falaremos nada, observaremos o teto com ares de abóbora
e dormiremos de conchinha.
Assim a mulher saberá, finalmente, o quanto sofremos até hoje
para descobrir se ela gozou
Nenhum comentário:
Postar um comentário