quinta-feira, 5 de maio de 2011

Nâo e meu o texto e do livro (Borralheiro, Minha Viagem Pela Casa) do cronista FABRICIO CARPINEJAR. mas e um pensamento que percorreu minha mente!

QUANDO O HOMEM FINGIR O ORGASMO
As mulheres  queimaram  a  calcinha,  o  sutiã  e  as  pantufas. Os
homens  incineraram  as  ceroulas  e  os  pijamas  listrados.  Não  há  mais
nenhuma  revolução sexual. Depois do anticoncepcional e do Viagra, a
impressão é que os tabus foram superados e não desponta recorde a ser
quebrado no horizonte.
Você se engana. A mais complicada mudança de costumes ainda
não aconteceu: o fingimento masculino do orgasmo. Aguardo uma pílula
que amplie o nosso repertório.
Seria nossa libertação das garras e caprichos das lobas e lolitas.
Se a mulher saiu da cozinha, o homem não abandonou o quarto. Está
algemado  na  cama  de  seu  corpo.  Da  forma  atual,  seremos  sempre
dependentes. Não há como se safar. Manteremos a pose de sexo frágil da
relação, submissos e súditos. É uma injustiça ultrajante, nos privaram do
benefício  de  falsear,  testar  gemidos,  recorrer  a  playback,  enganar  a
plateia. É tudo real, honesto e verdadeiro. Uma sinceridade imperdoável.
Entregamos  na  hora  se  amamos  ou  não,  se  estamos  felizes  ou  não;
dispensável o interrogatório.
Nenhuma namorada busca conferir o orgasmo do seu parceiro.
Não  merecemos  nem  a  pergunta.  Não  desfrutamos  do  mistério,  da
hesitação, do enamoramento entre o claro e o escuro. Não conhecemos a
dúvida, filhos da certeza por toda a eternidade. O grito e o tremor nos
entregam. A ausência de chance de mentir no sexo faz com que a gente
tente descontar fora dali, contando vantagens na profissão.
O  homem  pode  enganar  pulando  da  cena  com  a  camisinha
intacta. Mas não gera a mesma graça. No sexo tântrico, corre o boato de
que é possível gozar sem ejacular, porém nenhuma esposa é santa para
acreditar nesta história; dirá apenas que broxamos e pedirá na lata para
confessar o nome da outra.
O progresso carnal virá com o fingimento do macho. É o que falta
para a civilização confirmar a igualdade. É o último degrau. Distanciado de
truques e evasivas, terá que ser encarando a vítima. Como no teatro da
crueldade:  simular  olho  no  olho,  boca  na  boca,  ouvido  a  ouvido.
Reservaremos um dia na semana para aula de canto, exercitaremos o
pompoarismo das cordas vocais. Ela ficará indecisa se agradou, louca
Borralheiropara questionar e nos bater com o travesseiro, prestes a nos sacudir pelo
veredicto. E não falaremos nada, observaremos o teto com ares de abóbora
e dormiremos de conchinha.
Assim a mulher  saberá, finalmente, o quanto  sofremos até hoje
para descobrir se ela gozou

Nenhum comentário:

Postar um comentário